A vontade era ficar à vontade na sua vontade de se barbear. Como se a barba, que ele achava atraente, fosse o símbolo de um momento que ele não queria ter. Como se assumir-se assim, com barba, fosse fazê-lo cativo da necessidade de estar. Então, estar com barba significava preocupação em mostrar-se do modo como mais gostava. Quanto mais fácil era conservar o símbolo, mais reticente ficava em mantê-lo. Não seria, se não o tivesse? Pois então o arrancaria dali.
O barulho da lâmina na pele, a forma como o rosto aparecia, o mecânico movimento de deslizá-la em si mesmo o fortalecia. No instante de distração, um pequeno corte e o vermelho próximo à boca. Cuidado no revelar da pele pálida, no gesto de limpar o sangue e bater com a lâmina na pia. Acabou-se. À vontade esperaria agora o símbolo de si mesmo crescer.
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