Ou a vida é feita de escolhas
A afirmação poderia ser definida como uma crença limitante. Uma amiga minha acredita, piamente, que no dia no qual alcançar o sucesso vai morrer. Pois é. Limitante. Quem iria querer a fama em uma situação dessas? Deus me livre!
É a culpa cristã nos ameaçando. Não podemos ser felizes, não podemos sonhar, não podemos ter tudo. E se a alegria me invade em um dia de sol, temo pelos dias de chuva que virão. Sim, às vezes estou tão bobamente satisfeita com o que sou e o que tenho, com as surpresas e transgressões, que páro repentinamente e reflito: isso com certeza não vai durar. Pois é. Feliz, alegre, satisfeita e vem uma nuvenzinha me dizer que eu não deveria estar assim, afinal não se pode ter tudo.
Retruco. Sim, é verdade. Mas nem por isso vou deixar de viver esse sentimento. Nem por isso vou abrandar minha ira ou minha capacidade de retomar. Fazemos escolhas todos os dias. Salada ou brigadeiro, casa de praia ou de campo, táxi ou ônibus, amigas ou namorado, balada ou pizza gelada, solidão, multidão. Li inúmeros artigos abordando a angústia de ter que optar por uma coisa e não poder ter a outra. E se alguém escolhe pela gente? Quanta dor.
A chave talvez não seja ter tudo. E, sim, ser tudo o que se quer ou se pode ser. Deixar fluir a alegria, a tristeza, vitórias ou decepções. Cada uma tem seu tempo. E tem também o tempo de ir. Quem sabe, cultivar canteiros inteiros de afetos ou minúsculas onze-horas. Quem sabe, aprender algo novo ou aprender com o que temos de mais antigo em nós. Esse corpo que envelhece, esse rosto que se transforma, a vida que não espera pela gente.
Não posso dizer que optei por ficar sozinha. Ainda olho vorazmente para casais de mãos dadas, aqueles bem velhinhos, carregando a própria história nesse caminhar a dois. Se observo um álbum com fotos de uma família feliz, quase me contorço de inveja. Esqueço, por momentos, que ninguém faz instantâneos da tristeza, das dores, dos problemas. Só há registros de bons momentos.
Aprendi a conviver comigo. A provocar. A me habituar à angústia, companheira desse viver da gente, não me rendendo a ela, mas aceitando-a como uma parte. Como é parte da minha vida a crença que somos seres em construção, inacabados, imperfeitos, errantes, errados, humanos. Deixemos de lado as limitações. A vida é tão curta. Quase não dá tempo de falar eu te amo. Apenas crianças falam a frase sem reservas, sem pudores, sem desculpas. Porque desacreditamos desse sentimento, como se apenas pudesse ser algo de pais e filhos, de namorados ou companheiros. O amor transgride, permanece, festeja. Se o tenho em mim, então amo cada dia porque nele eu estou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário