sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Asfalto


Gosto das cúpulas das igrejas e da cumeeira das casas. Eu gosto quando o carro corre e o entorno vira um borrão. Não suporto engarrafamentos.

Gosto de árvores frondosas, bebidas quentes e geladas, céu azul. O banco do carro e o friozinho do ar condicionado. O amarelo do gelo baiano.

Sinto medo ao cruzar a faixa de pedestres. Gosto de retornos. Óculos escuros, uma camada de batom. Sandálias, saias, blusas. Sol.

Pensar olhando a janela, ouvindo Vanessa da Mata. Pode ser, sim.

De sentir saudade apenas quando sei que vai embora. E dançar. Com você.

Me assusto com amigos sendo vítimas de assalto. Tenho sonhos. E sobressaltos.

Gosto de festejar aniversários e dos que fazem festa. Observar detalhes em frestas e janelas. Desenhos em paredes. Muros caiados à distância. Jardins. E de quando os meus sorriem.

Bolo quentinho, abraço, brindes. Pilhas de livros. Lençois. Cheiro de maresia. Olhar – e não subir – escadarias.

Tardes, cinema. Beijo, sotaques, gargalhadas. E essa viagem.

Carlota
301112

sábado, 10 de novembro de 2012

De alegria, felicidade e outras coisas boas


A vitrine de aniversário da loja que eu tenho em sociedade com duas amigas tem esse mote. Três anos de perrengue, beleza, cumplicidade, sonho. O mote surgiu ao ver um cartaz no pinterest “Be happy”,  ser feliz. Muito além de qualquer cobrança, fiquei pensando nessa coisa de querer dividir o que é bom. Da alegria, da felicidade, das coisas boas que nos acontecem aos montes e a gente nem percebe. Daquele cara que deu um sorriso encantador e levou seu ego para as alturas. Daquele dia em que tudo deu certo. Da decisão tomada e do alívio que ela provocou. Do fato de encontrar seus filhos ocupadíssimos lendo naquela livraria enquanto você tinha de resolver um problema logo após o cinema. E a vontade e a declaração expressa em seguida: vocês são lindos. Porque souberam esperar, porque estavam embevecidos, mergulhados na leitura. E como é lindo perceber que eles se envolvem nisso tanto quanto você.

Hoje não falarei de dores, tristezas, mazelas, corpo e cansaço. Hoje digo: quero alegria. Quero fazer o brinde e ver a amiga dizer, ao invés de saúde, saudade. Porque os encontros hoje são raros. Muito mais porque o trabalho me toma os horários do happy hour. Mas não é que hoje deu? No mesmo dia em que faço uma vitrine e declaro meu amor completo à festa, à alegria, às inúmeras coisas boas que ainda existem por aí. Bate papo, por exemplo. Dançar. Poesia. Música. Afeto. Encontro.

Sim, vamos celebrar. Abrir o sorriso mais escancarado. Esquecer que existem esquecimentos, dores, ausências. Vamos nos envolver com aqueles que nos querem bem. Não que eu esteja esquecendo as dores do mundo. Não. Mas é preciso também agradecer o fato de ter coisas boas acontecendo conosco. Não é insensato amar. Não é insensato declarar o amor e o envolvimento. Não é insensato fazer escolhas.

Da alegria, felicidade e outras coisas boas posso dizer que são muitas. Que trazem rasgos de beleza, quebrando a rotina em pedacinhos, no fazer as unhas e pintá-las de vermelho, ou renda, ou verde perolado. É só um jeito de viver e de se encantar consigo. De cantar devagar a música que te deixa feliz. De dançar sozinha, acompanhada, flamenco, rodopios, ritmo. De pintar a boca de vermelho e dizer que hoje só você, só você pode ser a mais vibrante criatura. A mais alegre, feliz, intensa pessoa.

Rasga um pouco da mesmice, tira o vestido do armário, abre um sorriso. Porque existem as dores do mundo, as suas dores, e uma enormidade de diferenças, estranhezas e injustiças. Mas, hoje, dentro de você, tem felicidade, não se sabe bem por que. Ou se sabe, quem sabe? Vamos brindar à alegria, convocá-la para os dias, que de cinza se tornam ensolarados. Esse é meu dia, meu domingo, minha praia. Da alegria, felicidade, coisas boas, trago um ano inteiro de imagens, roteiros, amigos. Bora lá.

Carlota
10112012