Comento com amigas sobre um affair recente. E, a exemplo de receita de bolo em que cada um tem
a sua, duas se põe a me dar conselhos amorosos para preservar a conquista,
estimular uma nova aproximação, convidar para o cinema. Sim, minha gente, na
insegurança de encarar uma novidade promissora, haja conselho pra não assustar
o cara de quem a gente, simplesmente, ficou a fim.
Por favor, SMS sem muita paixonite, uma coisa tranquila,
tipo assim, vamos ao cinema? E se a gente quase esquece a criatura e a pessoa
inventa de ligar quando todo mundo está almoçando num mercado, curtindo um
domingo pra lá de bom, a cara e o sorriso denunciam: a gente adorou. E não teve
SMS não!
Deixa que ele liga. E lá vou eu, será? E foi nesse ínterim que
surgiu o comentário: sabe lá, pra não assustar essa raça perdida. Pois é. Que
triste! Porque podia sim ser só “que feliz!”. Século 21 e eu tendo de usar
subterfúgios pra não assustar marmanjo? Ai que chato, que saco! Assustar com o
quê, cara pálida?
Se os dois estão a fim, pra que esperar a intervenção divina,
a invenção humana, um momento em que as operadoras de celular finalmente
colaboram e permitem a comunicação? Taí uma analogia pra outra
crônica: uma operadora que simplesmente implica com a outra e impossibilita
qualquer mensagem, qualquer ligação, contato verbal.
De boa, fico relembrando as crônicas de Xico Sá, quando ele
fala da atual covardia masculina para assumir ficar ao lado de uma mulher
inteira, bonita, resolvida, alegre, bem sucedida. E aí que com a indecisão do macho
escorregadio, do cara que não liga no dia seguinte, que esquece a gentileza,
haja solidão. Quando se poderia, se quisesse, curtir o que fosse, por uma noite,
por dias seguidos, sem pressão.
Porque nem toda mulher quer compromisso. Pode se querer uma companhia
para sexo bom ou cinema. Praia, futebol, café. Sei lá. Se meu mundo já está estruturado, não é agora que eu vou mexer em tudo. Mas se o cara
quiser chegar junto, talvez surja um novo. E então?
E após conselhos, emails, ligações, SMS, encontros e
desencontros, admito: não sei jogar. Não consigo fingir
desinteresse se estou interessada. Não disfarço fomes, quando elas persistem.
Não deixo de lado possibilidades. E se os homens são uma raça perdida, não sei.
Generalizações terminam virando erros de julgamento. Como dessa vez em que
encontrei olhos da cor do mar em dia de céu nublado num olhar de perdição. E me
encontrei. Aliás, nos encontramos, minha criatura perdida.
Carlota
23022013