Hoje quebrei a unha. Me queimei fazendo o pirão do
chambaril. Comprei uma bola de futebol americano pela internet. Tive reuniões.
Ganhei uma Mafalda de presente. Tomei Stella Artois. Vi filme, ouvi música,
estudei inglês. Passei o dia me distraindo da sensação de ontem. Passei o dia
tentando lembrar de quando foi o dia que me apaixonei por alguém pela última
vez. Tempo do caralho. Tempo imenso. Porque lembro direitinho como foi. E é bom
que só, junto com uma certeza que chega de repente e invade. Pele, riso,
corpo, os fios de cabelo da nuca, uma infinidade de pensamentos.
E não tem vontade ou quebranto que dissolva essa
consciência. Não tem fórmula não tem recado não tem porra nenhuma. Chegando,
ela fica. Boa, boa, boa. Então que a gente pensa em se esforçar pra sentir de
novo. Imagina se tem alguma peça faltando nesse coração esquisito. Se tem
alguma pessoa no vasto mundo que se chegue devagar ou rapidinho e lhe garanta o
aceleramento do batimento cardíaco. A boca seca. O desejo de estar perto,
perto, perto. De ouvir, olhar, tocar.
Tem dia que acho que tem peça faltando mesmo nesse coração
esquisito. Parece que comeram alguma coisa, parece que a razão lhe explica
todas as formas de dissociação e autoconsciência. Em outros, há tranquilidade e vontade de viver. De curtir um grupo
de afetos risonhos, que bebem tanto quanto e dançam, almoçam, dormem, tem outra leva
de problemas pra dividir e alegrias pra contar.
Tem dia que dá vontade de fazer a energia boa circular. De querer bem e o desejo de que tudo corra bem. Em círculos amorosos e quebrando caixas especiais (como essa, de saudade). E foi assim que hoje lembrei
de um outro grupo. Que não posso mais ver nem tocar. Foram inúmeras massagens dos
corações, carinhos nos cabelos, abraços
de ano novo e de dia-a-dia. Acho que foi isso, hoje, minha agonia.
Carlota
22012015