domingo, 16 de fevereiro de 2014

Casa, chão, abraço bom

Tenho uma filha que vez em quando observa o mundo e me surpreende com diálogos simples, mas que me apontam caminhos até então invisíveis. Num dia de meninas saímos apenas as duas e encontramos uma amiga sua. Que também aproveitava a tarde com a mãe. Logo após o encontro, no qual nos alternamos em abraços, minha menina observa que a mãe da amiga tem um abraço apertado, forte. E que a maioria das pessoas abraça de um jeito mais leve.

Perguntei como era o meu. Ela disse: normal. Eita, quer dizer que o meu é fraquinho? Ela riu e disse que não. Mas fiquei pensando nisso. Na necessidade que a gente tem de abraçar vez por outra. E que ele é às vezes festeiro, às vezes simpático, algumas –poucas – protocolar. Nesta mesma semana, havia encontrado pessoas que me faziam falta. Dessas que são tão grandes que a gente esquece pra poder continuar. E foi uma explosão de afeto mútuo, porque era grande a saudade e pra contar dela todinha em tão pouco tempo, só abraçando mesmo.

Algumas pessoas trazem mais do que abraços apertados, fortes, completos. Às vezes ele vai entregando um presente inesperado. Repleto de uma energia boa, de bons angúrios, alegria. Em alguns instantes, parece que o tempo não está pesando contra. Parece que o muito a fazer é possível. Parece que a alma é criança. E o riso chega mesmo que o abraço não tenha durado mais do que alguns segundos.

O danado é esse abraço bom, no qual encontramos o encaixe de nos achar em casa. Como se a casa fosse encontrada junto da criatura inesperada. E que, inesperadamente, sapecou-lhe um abraço engraçado, agitado, tirando e lhe devolvendo o chão em segundos. Só porque você, de repente, encontrou uma alma habitada.

Carlota

160214