Tenho uma filha que vez em quando observa o mundo e me
surpreende com diálogos simples, mas que me apontam caminhos até então invisíveis. Num dia de meninas saímos apenas as duas e encontramos uma amiga sua.
Que também aproveitava a tarde com a mãe. Logo após o encontro, no qual nos
alternamos em abraços, minha menina observa que a mãe da amiga tem um abraço
apertado, forte. E que a maioria das pessoas abraça de um jeito mais leve.
Perguntei como era o meu. Ela disse: normal. Eita, quer
dizer que o meu é fraquinho? Ela riu e disse que não. Mas fiquei pensando
nisso. Na necessidade que a gente tem de abraçar vez por outra. E que ele é às
vezes festeiro, às vezes simpático, algumas –poucas – protocolar. Nesta mesma
semana, havia encontrado pessoas que me faziam falta. Dessas que são tão
grandes que a gente esquece pra poder continuar. E foi uma explosão de afeto
mútuo, porque era grande a saudade e pra contar dela todinha em tão pouco
tempo, só abraçando mesmo.
Algumas pessoas trazem mais do que abraços apertados,
fortes, completos. Às vezes ele vai entregando um presente inesperado. Repleto
de uma energia boa, de bons angúrios, alegria. Em alguns instantes, parece que
o tempo não está pesando contra. Parece que o muito a fazer é possível. Parece
que a alma é criança. E o riso chega mesmo que o abraço não tenha durado mais
do que alguns segundos.
O danado é esse abraço bom, no qual encontramos o encaixe de
nos achar em casa. Como se a casa fosse encontrada junto da criatura
inesperada. E que, inesperadamente, sapecou-lhe um abraço engraçado, agitado,
tirando e lhe devolvendo o chão em segundos. Só porque você, de repente, encontrou
uma alma habitada.
Carlota
160214