Preguiça. Que ele não saiba,
mas penso seriamente em desmarcar o encontro e curtir nesse domingo a minha
cama. Preguiça. Levanto, tomo banho, deito de novo. Preguiça. Não há ninguém em
casa, o sossego é meu. Levo o jornal para o quarto após o café e leio até a
revista da TV. Não vou sair de casa nesse calor. Não quero ver ninguém.
Acordo perto das 13
horas. Quase em desespero. O encontro era às 14, no Parque da Jaqueira. Não ia
chegar a tempo. Resolvo ligar. Digo que só agora me arrumo e que vou atrasar
uma hora. Tudo certo.
Quando entro no parque
lembro que a gente não disse aonde iria se encontrar. Não há celular para eu
ligar e saber. A única referência era uma imensa toalha em tons de laranja que
ele prometera levar para que a gente sentasse aproveitando a tarde. No lugar, skatistas, adeptos da corrida e caminhada, evangélicos em pregação,
ciclistas, crianças, pipoqueiro e vendedor de churros. Vou tentar imaginar como
você pensaria, onde você está.
Míope e sem óculos, vou
olhando todas as pessoas no gramado. Até decidir usar a lógica ou intuição. Vou seguindo em frente e encontro você lendo o mesmo jornal que horas antes eu
havia devorado. A toalha laranja ajudou. Você de bermuda, eu de jeans e
camiseta (que fiquei em casa pensando se dava pra usar vestido e deitar na
grama). Na dúvida, e na escassez de saias longas, optei pelo mais fácil.
E a gente ficou ali,
conversando sobre certas angústias, certos amigos, alguns planos e outros
sonhos. Os dois com lápis e cadernos que, nesse dia, não foram usados. Não
havia necessidade de registros visuais daquela tarde. Guardamos todos em nossos
olhos. A menina soprando para mim algumas bolhinhas de sabão. Sermos usados como
esconderijo na brincadeira de um grupo de crianças. Ver um menininho dando
passos ainda cambaleantes, ao lado da mãe e da irmãzinha, deliciada pela experiência
de tê-lo tão perto e comandar um tanto sua caminhada.
A grama estava um pouco
molhada, relembrando a chuva da manhã. A gente estava quebrando a tristeza em
pedacinhos, jogando na toalha, rindo do que cada um achava muito grave. Era
nosso jeito de nos divertir. E haja conversa pra dizer como conversar com
outro. E haja instrução pra desbloquear meus traços. E haja observação de
árvores, igreja, pessoas, chão.
Na vontade de comer
churros, descobrimos o gosto em comum. Aliás, ambos adoramos doces. Quanto mais
brigadeirados melhor. E de repente deu vontade de uma terceira amiga, dela
estar ali. Risonha, divertida, louca de pedra (assim como nós dois), não custa
ligar pra ver se chegou da viagem à Amazônia. Ela atende. Voz de sono, disse
que sim, queria nos ver. Mas num ponto próximo de sua casa. Combinamos de ir
até uma lanchonete na Av. Rosa e Silva para encontrá-la.
Hora de recolher a
toalha, receber elogios pelas nossas bolsas (cada um gostou da usada pelo outro)
e de sairmos caminhando. E como a gente gosta de andar pela cidade da gente. Devagar
pela rua do Futuro, quebrando à esquerda na Malaquias, entrando na avenida. O
percurso, sei lá, 15 minutos, e ela estava lá. De sorriso, de cansaço, de corpo
todo esperando abraço. E a gente feliz, que a saudade foi grande.
Pra onde? Pra uma
sorveteria escondidinha que ela não conhecia, a Santo Doce. Tiramisu, morango, leite ninho, cocada, nenhuma calda. Antes, um copo d’água.
Cada um vai na escolha do outro e descubro o sabor de uva fresquinha no sorvete
de vinho do porto. Apaziguados, com todos os detalhes da viagem contados, vamos
à casa de Pedro, no Derby, caminhando juntos. Antes, passamos na de Jullie, também
pertinho, para comer delícias do norte.
Na casa de Pedro direto para a cozinha. Torradas, geleia de açaí (gostei não), doce de banana, chá.
Muita comida para poder juntar tudo em conversas amenas. A tarde/noite de
domingo foram curtas. Para mim ficou a obrigação da despedida, pois tinha de
voltar para Olinda. Ao chegar em casa, um email feliz informa do quanto nós duas
deixamos o dia mais leve.
Mas acho que não foi
só a gente não. Foi a cidade. O caminhar sobre ela se sentindo dono. Ciente da
vontade de apenas flanar e observar prédios simpáticos, casarios, vitrais que
ainda persistem naquela avenida que também abriga prédios imensos. Ainda
existem recantos e uma vontade grande de senti-los em passos pequenos. Nossos.
Carlota
290312