domingo, 24 de outubro de 2010

Nuvens

Coisinhas bobas de domingo. Escolher esmaltes com a filha no supermercado. Terminei trazendo três, um preto para ela (vai ter Hallowen na escola) e um verde água e outro vermelho para mim. Experimentei-os assim que cheguei em casa e cá estou digitando com três dedos da mão esquerda pintados. Eles foram unânimes: preferem o verde água ao vermelho – acho que não querem ver a mãe pintada de paixão.

Um pouquinho antes do jantar, me deixo ficar no jardim da minha casa. Finalmente hoje tive coragem de podar umas plantas que ameaçavam invadir até os muros vizinhos e cresciam totalmente desorientadas. Aproveitei as cadeiras de praia que ganhei de presente e resolvi dar uma parada para escutar música, tomar uma cerveja e olhar o céu. Fiquei sentindo a brisa e lembrando de chamar minhas amigas para curtir um céu desses num sábado próximo, ouvindo música e tomando cerveja, sem necessidade de falar.

Marina inventou de ficar ao meu lado um pouquinho, mas ela queria falar, falar, falar. Tentei dividir o fone de ouvido, mas não houve acordo. Então despachei-a pra dentro, depois de tirar umas fotos lindas. Estava eu admirada da beleza dessa menina, com seus cabelos longos e cacheados e esse riso franco de quem sabe que está atrapalhando meus devaneios mas vai dar uma colher de chá durante um tempinho. Ian também apareceu, deu sorrisos, ganhou um registro a mais no celular.

Até que Igor resolveu chegar e nossa semelhança também. Que ficamos os dois olhando o céu, dividindo o fone de ouvido, admirando e imaginando formas para as nuvens que passavam devagarinho. Falei daquela estrela que tinha um brilho fixo, não é estrela, é planeta, Vênus, vésper, a estrela da manhã e da tarde (a estrela Dalva dos poetas). Ele não sabia e eu fiquei contente em dividir algo que aprendi há tanto tempo.

Tocávamos com os pés um no outro, nesse encaixe de quem é cúmplice. E ser cúmplice dele nessa noite foi deixar de ser a mãe exigente que cobra o uso do aparelho, o estudo e o compromisso com ele mesmo. Tão bom só curtir a companhia desse menino de quase 12 anos. Que também gosta de ouvir música e olhar o céu, dividindo os nossos silêncios sem espanto. Partilhando a amizade. A lua resolveu sair nesse momento e aí a gente ficou assim, numa de dizer: putz, tá muito linda. Tá nascendo. Vamos tentar tirar uma foto. Dá um zoom, mãe, dá um zoom! E a gente subiu no portão, no muro e ficou lá, tirando foto e olhando ela subindo no céu.

Depois que ele entrou ainda fiquei um pouco lá fora, tentei ligar pra matar uma amiga de inveja, mas nada de atender. Descalça e naquela cadeira de praia, curtindo ouvir música sozinha, lembrando do que senti no supermercado. Tremendo mau humor antes do almoço, mas quando fomos às compras eles se sentiram em um parque de diversões. (coisa de criança que não paga as contas e escolhe besteirinhas pra comer depois).

Em plena escolha das laranjas, peço que cada um vá pegar algo e eles foram tão decididos, tão contentes com a divisão de responsabilidades, que apenas fiquei parada sentindo uma conhecida onda de amor. Um lance de adorar ter essas crianças comigo. De curtir ensiná-los a serem independentes, a colaborar e contribuir um com o outro no que for preciso. Se bem que às vezes isso não funciona de jeito nenhum. Brigam, gritam, irritam-se. Mas estavam minhas crianças amenas.

Ainda tenho de enfrentar a tintura. Ainda tenho de colocar cada um para dormir. Os pratos do jantar estão chamando, mas acho que vou deixar essa parte para amanhã. Sim, tenho de tirar esse esmalte, vai ficar estranho chegar no trabalho amanhã com três unhas pintadas. Eles me chamam pra assistir TV, enquanto escorrego um pouco e venho pra cá, escrever. Registrando um dia bom.

Carlota
24102010