Sou dessas pessoas que contam o tempo. Sei exatamente há
quanto tempo a gente se conhece. Sei do dia que tua palavra veio em meio a
outras mensagens e eu terminei me enredando nessa conversa e esquecendo de
responder às aflições indistintas que me chegavam em paralelo à tua fala.
Sou dessas pessoas que contam. E nem precisa facebook pra
lembrar que a amizade começou faz tempo, mais do que aquele que o algoritmo inventou de registrar. Sei a idade dos meus filhos, há quanto estou onde
trabalho, o dia em que comecei meu primeiro, segundo e terceiro empregos.
Sei também dos aniversários queridos, dias e meses, porque
os anos acho que a gente acertou de não
registrar. Conto ainda as laranjas quando as vou colocando no cesto, mesmo
sabendo que comprei dez e depois mais duas, para aquele bolo de ameixa que, por
incrível que pareça, também leva essa fruta e que uma amiga-vizinha me ensinou uma vida atrás.
Sim, conto esse tempo que me trouxe 48. Conto o tempo que
perdi com medo de escrever a tese, conto o tempo daquele desabafo que, no
final, tinha só duas linhas e meia e que era muito maior no pensamento. Conto o tempo de
quando cheguei a uma vila charmosa, faz um ano, tempo esse que fazia dois de um
conhecimento, uma conversa em meio a mensagens aflitas, me trazendo uma brisa
de mar bem pertinho, revolvendo cachos e sorrisos. Era um jeito de contar o
passar, refugiada em edredons, séries e adolescências presentes em casa.
Eu conto o tempo o tempo todo. Sei de quando se vão, quando
chegam, quando se apartam, quando brigam, quando amam. Sei de quando vivi,
perdi, encontrei. Conto o tempo, compasso que não investiga minutos nem horas.
Tampouco anos. O tempo é aquele que a gente precisa, fluxo que vem e vai, sem
dizer muito.
No conta-conta se muda tanto que, ao relembrar um instante distinto, a gente se vê diverso desse tempo passado. E aquilo que por ventura
doía, alegrava ou inspirava conversas que chegavam em meio a mensagens aflitas
e não respondidas, vira um tempo que não se precisa e não é mais.
Carlota
181117