sexta-feira, 25 de março de 2011

Roda gigante

A história de nós dois podia ter tido uma roda gigante. Uma tarde no cinema. Podia ter tido um beijo roubado no final de um corredor. Ou dois românticos incorrigíveis em busca de noites de lua cheia, praias desertas, músicas cantadas ao pé do ouvido.

Houve cartas e textos que escrevi. Dos que mandei por email guardo lembrança. Da única carta, não faço idéia do conteúdo. Lembro vagamente de achar que não era. Ou que era algo mais doce. Entre uma vontade de me perder, cansaço. Quando será que começou essa história? Quando sem perceber passei duas horas desenhando você em minha caderneta. Hoje olho o desenho e percebo a quantidade de afeto na fiel reprodução dos pelos do seu braço direito. E como o seu esboço parece com você.

Também sorvete e café, uma cúmplice brincadeira que começou quando quase não havia nada. Só o coração meio descontrolado, mas devia ser impressão essa vontade de comer um pote de sorvete em conjunto, encostados em um posto de gasolina. E de caminhar tanto, tanto, só para evitar a despedida. Quando mais tarde já havia muito, o sorvete era comprado novamente em uma loja de conveniência para dar sabor de menta aos nossos encontros.

Podia ter havido uma declaração de amor verbal, carnal, expressada veementemente. Podia ter havido noites mais claras e não essas noites que passei em claro no sofá da sala. Eu podia ter bebido menos e não ter ligado. Podia ter sido uma outra. Mas fui eu.

Eu que fui ao seu encontro. Eu que me permiti. Eu que me apaixonei e desisti 150 vezes e mais duas. Eu que quis partir. E o café, a noite, o sorvete; o uísque, cerveja, batata frita; a música, o filme, os clipes da MTV; os presentes, as presenças, o calor e a insônia. Os corpos no chuveiro, a água morna e quatro mãos se alternando em suaves e rápidos afagos nas costas.

Será que a roda gigante iria me salvar da insônia? E se tivesse sido antes? Antes de saber tanto de mim? Antes desses 200 anos que carrego em caixas? Antes de uma dor que me partiu? Acho que não era roda gigante afinal. Nem montanha russa, parque, praça, casa. Sempre foi janela e portas. Fechadas.

(E nesse ponto me arrisco em uma gargalhada, largo o mouse, bebo o que ainda está no copo e vou dormir. É bom o silêncio daqui).

Carlota
25032011