sábado, 3 de julho de 2010

Tatuagem

Prometi a uma mulher de olhos verdes que ela ganharia uma tatuagem de aniversário, pelos seus anos iguais aos meus. Estou praticamente enfrentando a dor e investindo em uma também. Mas ela, que não tem coragem de deletar meus emails, merece mais do que uma tatuagem. Porque a vida é árida por vezes e é preciso falar de amor, de afeto, de amizade.

Dona Ana Maria é uma baixinha invocada. Mas que entende meus rompantes, tanto os que me deixam no brilho quanto os que me provocam ataques de fúria. Sabe um pouco de mim, porque a amizade começou antes de nos tornarmos sócias. Não nego, me apaixonei primeiro por seu filho, encantador e gentil, capaz de escolher opções para jantarmos em conjunto, driblando minha alergia a frutos do mar.

Gosta tanto de música, essa menina. De tantas que eu também curto. De se sentir livre, por isso ser tão rápida no volante. Até ouvir minha medrosa ameaça, faz isso não, que eu tenho medo. E ela, gentilmente, reduz um pouco a velocidade, contendo essa fome de vida que eu também trago comigo, mas que vou transformando em textos, dança e caminhadas.

Acho que aniversários devem ser feitos para comemorar. Pra festejar com alegria, por mais idade que a gente vá acumulando, por mais cabelos brancos que surjam (e que são implacavelmente pintados de castanho), por mais que a vida nos ofereça embates doídos demais. Vibrar com pequenas coisas, com as conquistas, com a beleza de um dia que amanheceu bonito, a lua que nos faz querer namorar, um telefonema que traduz praticamente o quanto somos queridas, por tão inesperado ou aguardado. Isso é viver. Sabendo sonhar, esperar, colher as sementes que plantamos todos os dias.

Para não ficar parecendo texto de auto-ajuda, vou dizer outras coisas. Dizer que estou por perto quando precisar. Que minha casa também é sua, aceito dividir até o caçula, que você ainda não conseguiu conquistar (porque ele é quase inteiramente meu). Dizer que sempre vou estar por perto para arrumar vitrines e confusão. Para beber em uma sexta-feira ou acordar cedinho em um domingo. Para curtir a praia, seus amigos, dançar.

Aninha, você é especial por vários motivos. Mas o primeiro deles, para mim, é a proximidade sem frescura de quem está por perto e conhece meus defeitos. E me aceita. Porque é capaz de se encantar com coisinhas bestas que falo ou escrevo. Porque tem no sangue a vibe de uma mulher que sabe que é isso, mulher, toda cheia de conflitos e felicidade, toda alegria e tristeza, toda beleza, vaidade, querer.

Para minha Ana Maria, vale sempre dizer: você é uma pessoa querida. E que sabe estar no lugar certo quando a gente precisa. Mesmo que dormindo ou com cara de cansaço, ou dizendo, tem que fazer, tem que ter isso ou aquilo, fulano merece, tão preocupada com todo mundo. Pudesse eu hoje, abriria uma casa de festas pra gente ser criança de novo. Pra brincar de cama elástica, pula-pula, comer pipoca e brigadeiro, tomar uísque e guaraná (sem mistura, para não estragar).

Lembre: estou aqui. Ao seu lado. Como uma tatoo. Enquanto a vida me mantiver em Recife, enquanto a inquietude não me levar a outras paragens. Beijo, minha querida, feliz aniversário.

Carlota
03072010.