domingo, 14 de agosto de 2011

O comum e o normal

Estava no banco dianteiro de um táxi quando meu filho caçula, que seguia atrás junto com seus dois irmãos, me pergunta: qual a diferença entre comum e normal? Confesso que naquele momento estava longe dali. Pensava em deixá-los com minha tia, ir trabalhar depois, observava o céu nublado, com uma chuva chata desabando de vez em quando. Eu estava e não estava naquele táxi. Daí a pergunta, assim, de repente, ter me forçado a voltar, lembrar que tenho filhos e que responder suas perguntas é uma das tarefas das mães.

Engraçado. Parece que eles também aproveitam as viagens de carro e começam a pensar, talvez por estarem absortos em algo que os provocou, talvez porque observam o dia pela janela e algo lhes chama a atenção. Como também vou nessa onda, é um dos momentos nos quais sou mais paciente para explicar (e se eles descobrem isso vão querer usar o táxi como refúgio para conversas difíceis).

Começo a responder. Comum é algo que se encontra em todo lugar, fácil de achar. Pode ser uma coisa, um objeto ou pode ser uma atitude. Por exemplo, é comum uma mãe reclamar com os filhos (e aí estava fazendo um mea-culpa, porque havia reclamado com os três e, um pouco me defendendo, dizia ser a reclamação algo comum às mães, não exclusividade minha). Então chegou o momento de dizer o que era normal e eu emperrei, achei os dois conceitos muito parecidos (e significam, segundo o Aurélio, a mesma coisa), fiquei pensando em valores, atitudes, em pessoas e não sabia dizer, realmente, o que era normal. Para mim é um conceito muito elástico, algo pode ser normal para mim e ser anormal para outra pessoa.

Terminei respondendo que normal era algo tipo respirar, ter sede, fome. Anormal então seria uma pessoa que não precisasse comer, respirar, beber para estar viva (em outras ocasiões fui muito, muito melhor). Daí meu caçula começa a dar o contexto de sua pergunta. “É que naquele posto tinha assim, gasolina comum”. E eu tive de explicar então haver dois tipos de gasolina em postos, a comum e a aditivada, essa última recebia substâncias para fazer o motor funcionar mais e melhor.

Depois disso quase sorri (é que o dia estava nublado). Como uma perguntinha tão simples me fez parar para filosofar? E segue assim o tempo. Às vezes basta uma pergunta, e a vida está cheia delas, para nos forçar a refletir, em um exercício infinito, que não se encerra nem quando encontramos a resposta.

Carlota
14082011