Fiz roteiros mentais ontem ainda na vontade de descrever
momentos distintos que vivi em 2014. Todas as portas que precisei fechar por
uma necessidade absurda. Era isso ou a dor. Era isso ou a incerteza.
Era isso ou invasão.
Sobre a habilidade das pessoas que falam
E quando elas, incrivelmente, sabem tudo sobre você e onde
inserir o dedo para cutucar todas as feridas. Sobre a forma como elas nos
cativam. Sobre quem nos envolve. Não, não são as mesmas. Mas, em comum, a forma
como falam e vão, intencionalmente ou não, mudando sua vida.
Sobre portas
2014 veio domesticando minha fera
interior, a que livremente se mete a deixar abertas as portas, para ir e vir. Fechei algumas delas. Não apenas elas, mas todo contato virtual,
real, sim, te excluí. Sim, vá à merda. Foi essa a sensação.
Sobre o choro
Sou apegada a pequenos objetos e a pessoas. Daí
que fechar qualquer porta me provoca um choro de semanas. Falar nisso, choro
desde terça-feira. Um desamparo, moço. Uma agonia, moça. Porque as danadas das
criaturas que sabem falar me convencem em tempo integral que uma parte de mim,
ou toda ela, é insustentável. Incômoda, egoísta. E a dor de ouvir de quem tem a
habilidade de falar, dá essa impressão besta de que elas, realmente, tem razão.
Corra, Lola, corra.
Sobre os amigos
Não sei quantos possuem o entendimento de que um abraço
representa uma volta ao mundo para quem está chorando. Para quem está alegre.
Para quem está em um conflito interno que invade os dias e lhe tira o ar.
Não sei se há a percepção de que um abraço salva. De que o acolhimento de
receber o outro nos braços e deixá-lo ali, enquanto for necessário, está ligado
ao cheiro de terra molhada, aos lençóis perfumados, à comida quentinha, à
ancestralidade de nossos avós. À parte mais branda e afetuosa que a gente se
permite ter.
Sobre chaves
2014 foi, também, de descobrir chaves escondidas. Abri a
mente, acolhi ajuda, dei espaço para choro, para a dor, para as alegrias. Abri
espaço para gente que nunca enxerguei direito. Para receber a orientação de pessoas extraordinárias, na vida, nos estudos, no trabalho. Abri, abri, abri. Os olhos, o
corpo, a alma, a vida. E me senti segura no descobrimento, nas cortinas escancaradas,
no sorriso sincero e com o que decidi viver. Bem assim.
Sobre hoje
Noite em Olinda, amiga querida, a dor no peito ainda me fazendo
chorar. Vontade de ser mais. A ideia de ser apenas uma. Conflito libriano
regado à cerveja, ladeira, lua, cigarro mentolado, andar pelas calçadas, gentileza.
E encontros inesperados e felizes.
A vida, a minha, é assim.
Carlota
07122015