terça-feira, 30 de novembro de 2010

Como quando a gente volta (ou se encontra)

Caixas se espalhavam por todos os lados. Porta retratos, bichos de pelúcia, lindas xícaras prateadas, pantufas coloridas. Um computador, calculadora, canetas, três mulheres quase enlouquecidas com tanto a fazer. Eis que há uma pausa rósea, aliás, sorridente, rósea e gentil. Um amigo que decide fazer um brinde delicado, trazendo flores, abraços e braços para o trabalho que não findava naquela noite de quinta.

Em meio à confusão, ao esforço de iluminar as janelas fazendo com que o pisca-pisca de 15 metros desse pra tudo, deu oito da noite e era preciso correr. Mas a pressa foi bem vinda, porque abriu espaço para todos irem até o bar mais próximo, experimentar novamente beber juntos, numa barulhenta conversa entre quatro pessoas.

Da cerveja inicial a opção ficou para o clone de uísque. Todos bebemos e brindamos, brindamos e bebemos. Era dia 25, aniversário de um ano e, também, sabíamos apenas as três, de uma semana de uma briga intensa e um retomar cuidadoso, como se ainda fosse preciso reconhecer o terreno que sempre fora nosso.

Mas a pausa era conversa pra horas. E a comida demorava, o garçon se chamava Max (Groucho Max, será?) porque simpático e amistoso e todos com fome até que a carne veio e nos fizemos carne também. Vivos, presentes, alegres. Naquele papo que diz muito e quase não diz nada, surge o convite para um café. Aliás, para um licor, café foi sugestão para acompanhar. E, porque não dizer, diminuir o teor alcoólico do meu sangue, que já beirava o limite do aceitável, face ao cansaço de quem ainda queria encadernar oito blocos (projeto que se revelou impossível ao chegar em casa a uma da manhã).

Eu me instalo na cozinha, para mim o espaço mais interessante de uma casa, quando preciso me ambientar sem me intrometer demais no espaço alheio. Vou lá, pra moka, explicando ser necessário colocar apenas 2/3 de água, o café no filtro sem apertar, indo para a sala apenas durante o licor (ou antes corremos o apartamento, as três? Não lembro). Amarula é maravilhoso com café. Puro também. Mas o melhor da noite foi ser surpreendida com tanta gentileza.

O perfume do café invadiu a sala. Achei que podia ter ficado mais forte, mas todo mundo curtiu. Eu estava curtindo estar ali. Sem preocupações com uma festa iminente, com uma dia em que teria no mínimo 12 horas consecutivas de trabalho, com voltar para casa. Acho que só senti falta de música, que ando procurando-a por onde vou. Mas não foi uma falta percebida no momento. Só agora, lembrando, lembrei disso.

Diferenças entre críquete e pólo. Entre alazões, baios e outros dos quais me esqueci o nome. Observar uma negrita muy bella, que parece um convite à liberdade e ao vento no rosto. Encerrar a noite com um abraço curto e gostoso. Estávamos todos um pouco altos. E muito, muito alegres. Entreguei-me à minha cama e nem pensei na ressaca que poderia surgir. O aniversário fora pleno. E feliz.
Carlota. 29112010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Apenas

Não vou pedir desculpas.
Não adiantariam.
Sinto-me estranha, apenas.
Como se uma amiga tivesse razão
E houvesse duas de mim.
O adeus que eu dei doeu.
Mais uma vez.
E me provoca
Por ter sido escolha.
Sinto-me estranha apenas.
Estrangeira no meu corpo
Em minha casa
Entre os meus.
De novo esse afastamento.
De novo um coração ressentido.
Mesmo ele, de perdão.
Sinto-me estranha, apenas.
E a sensação é de perda.
Como se alguém precisasse dizer:
seja gentil.
Então essas lágrimas não se vestem
Elas me despem, desnudam
Mas o que fica é conhecido demais.
Não precisava ser.
Sinto-me estranha, apenas.
Mesmo sem querer.


Carlota.
21112010