Sábado me arrumava para ir à casa de uma amiga. Pronta, de frente ao espelho, ainda com o corretivo na mão, recebo um telefonema de uma colega de trabalho. Ela me diz: infelizmente eu não tenho boas notícias. Meu Deus, foi com ele? Não, com a mulher. Faleceu e o enterro será hoje, no Parque das Flores. Eu entendo se você não for, afinal tem os meninos. Eu disse que iria. O pai, coincidentemente, veio visitá-los. Liguei pra minha amiga, disse precisar ir a um enterro, portanto estava suspensa a nossa farra doméstica.
O engraçado é ter saído de casa, em Olinda, de ônibus, com a certeza absoluta de que o cemitério era na Várzea. Talvez porque o bairro me pareça bucólico e as flores me indicassem esse caminho. Não era. Cheguei ao lugar errado e liguei para a colega que tinha me avisado. Ela me ensinou como chegar, peguei um táxi e corri para lá. Mesmo naquela tristeza, os amigos reunidos conseguiram perguntar sobre a minha desorientação. Mas não foi. Se eu soubesse ser o lugar tão longe, não teria ido. O erro nesse caso foi providencial.
Ao chegar me deparo com o caos emocional do meu querido que perdera a esposa, a companheira, mãe de três filhos seus. Devastado, com os olhos perdidos. Senti uma dor tão grande e uma vontade de me aninhar em seus braços, ele que parece um urso de pelúcia e sempre me trouxe uma palavra de afeto. Como é bom ver você aqui, é sempre bom ver você. E eu apenas repetia: meu querido, meu querido.
Pensava: merda! Contaram-me que ele também está doente. E a sua dor me comove, incomoda. A de sua perda, a dos seus filhos, a de ver, de novo, fecharem à chave um caixão. Ainda sofro. Essa velha conhecida, que de tão ameaçadora nos faz esquecê-la, é para mim uma certeza amarga. Provoca nos que ficam o sofrimento pelos que se foram. Como dar adeus a quem nos acompanhou por mais tempo do que a idade que tínhamos antes de nos conhecer? Como dizer adeus e ficar, sabendo-se sozinho?
Nesses momentos sinto as palavras e as vejo insuficientes. Nada consigo falar. Não me acho capaz de aliviar a dor por meio delas. Fico ao lado, procuro abraços e mãos. Meu querido, meu querido, estou aqui.
|22072009|
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