Tenho um histórico de mulheres fortes no caminho. Daquelas
que não desistem, que alcançam, dão tudo de si. Tenho um histórico de mulheres
que foram embora, seja pela morte ou por viagem, seja por uma briga ou por alguns equívocos que nem sempre a gente pode
desfazer.
Quando lembro de minha avó, Dona Creusa, todo um universo de
felicidade chega pra mim. Quando lembro dela, vem o gosto de feijão
com arroz, revejo brincos e colares de aniversário, ouço novamente seus
conselhos. E sinto o corpo quente, gordinho, acolhedor, meu travesseiro
na infância e meu pouso e calmante na adolescência e vida adulta.
Minha mãe, presença menorzinha em minha vida, afinal foram
só nove anos, lembro pelas unhas vermelhas e intensa vontade de viver. Pelos
gritos e exuberância, pelos cabelos arrumados e olhos amendoados como os da
minha irmã. Revejo cada um dos seus sorrisos, saboreio até as migalhas de seus
bolos maravilhosos. Eró, a irmã mais velha dos meus tios, a mulher
com tudo para ter vivido mais. Mas, pelo que viveu, foi muito e foi
linda.
Penso na amiga querida que uma sociedade estragou. E quase
não consigo admitir essa falta, uma angústia de dois anos. Até eu entender
que tudo muda. E a gente tinha mudado, não era mais cúmplice não. Mas o desejo
de que a vida seja leve pra nós duas permanece. A gente precisa é muito disso.
Leveza, alegria, amor.
Aí vem uma delícia de aluna, de ex-aluna, de amiga, a resolver empacotar todos os pertences, jogar fora as tralhas e partir. Recife
não cabia mais nos sonhos, era pequeno, era só isso, Recife. Com lembranças
legais e outras não. Gabriela. A quem entrego muito amor e partilha, por tudo
que ela me ofereceu: de vistas lindas do Capibaribe até amigos, até o vinho,
até a dor que vez em quando eu lhe contava.
Sinto falta dessas mulheres pertinho. Sinto falta também da
minha filha, minha nega, minha linda. Que cresceu, é Marina, e não mais menininha, Nina ou Pipoca. A que ainda hoje guarda no espaço entre a raiz dos cabelos e a testa um perfume
doce e todo seu. O cheiro da minha flor menina. .
Pra essas mulheres incríveis e lindas, tão fortes e
corajosas, desejo todo o bem do mundo. E incluo no pacote outras a me fazer falta mas próximas, ao alcance de um post, uma ligação, um abraço. Salett,
Aline, Verônica, Cris, Mariana. Tenho de aprender a entregar o amor
pessoalmente. Quem sabe assim ele circula mais forte e esperançoso de dias de
sol. Iluminado.
Carlota