segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Anfitriã (de como receber pressupõe uma predisposição da alma em sê-la)

Que não pensem os amigos que os recebo com falsidade. Entrar pelas portas da minha casa implica em ser neste momento muito querido. O coração faz festa mesmo que ela não seja. Ou seja apenas um café.

É preciso, quando se recebe, abrir bem as janelas, aspergir perfumes pela casa, ungir com óleos os pés dos convidados. É preciso aquecê-los, se faz frio, e refrescá-los, se o calor por vezes é insuportável.

Quando há na alma um bem querer expansível nesse receber, a tarde, a noite, a madrugada, viram uma coisa só. Um lapso de tempo onde ele próprio não existe.

Quando os recebo, caros amigos, é porque quis vocês com tudo o que eu tenho em mim. É porque minha alegria prevalece. É porque sou música. E ela me deixa leve. E faz ser possível arrastá-los nessa onda benfazeja de quem bate o bolo, prepara a calda, põe a mesa e faz café. Capaz de produzir entre cantos, risadas, abraços, deliciosas lolitas que derretem na boca e quase nos queimam a língua, porque a gula impele a todos a comê-las tão logo saem do forno.

Então, se recuso um convite ao recebimento, é porque hoje, infelizmente, não poderia acolhê-los. Com certeza não ofereceria nem um copo d´água, que dirá um abraço amigo. Haveria fumaça em meus olhos, as janelas teriam cerradas as suas cortinas e o sofá, a mesa, as cadeiras, não seriam os móveis que são. Antes desenhos pintados sem nenhuma utilidade.

Se tive meu coração fechado, não queria que o vissem. Precisava de uma trégua que começa apenas quando me retiro em parte do mundo. Apenas escuto e respondo e acolho as infantis vozes e apenas dos meus filhos. Suavemente, eles me tomam pelas mãos e me levam para caminhar na praia. Uma pena só ter tido dois deles hoje comigo. Queria me sentir envolvida pelos três.

E, ouvindo as conversas entre eles, me sentir amada. E, ouvindo as conversas entre eles, resvalar devagarinho pelo meu próprio caminho em uma conversinha mansa comigo mesma.

Se não os recebo ou se digo, claramente - hoje não – peço perdão. Eu nada poderia dar. Nem receber.
Carlota
150112

2 comentários:

  1. lindo Carlota, vc é mesmo delicada.

    "Quando há na alma um bem querer expansível nesse receber, a tarde, a noite, a madrugada, viram uma coisa só. Um lapso de tempo onde ele próprio não existe."
    :D

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    Respostas
    1. Eu senti isso quando a gente se encontrou lá em Gabi. Tão bom estar entre amigos e estar contente e querer dividir a alegria. E ver tua filha, do tamanhinho que meus filhos já foram, foi tão, tão bom, que tu nem sabe. Bj.

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