Como eu ando irritada, meu Deus. Como quase tudo implica em arranhões na alma, som de tampinha arrastando no asfalto, apito no ouvido, sol de meio dia. Como quase tudo me deixa tão à flor da pele. E sai triscando em uma sensibilidade de carne viva.
Não queria mais um telefonema, uma pergunta, asfalto molhado de chuva caindo o tempo inteiro. Não queria mais dar explicações, esconder os olhos, baixar a cabeça na incerteza. Não queria hoje nem amanhã. Só ontem, que foi melhor.
E uma música se sucede à outra e eu escuto Tulipa Ruiz, escuto Teatro Mágico, escuto Zeca Baleiro. Alguém me diz Vinícius, para alegrar, mas não me deixou alegre, Vinícius. Poesia demais, amor demais, paixão demais para quem está tão irritada, meu Deus.
Não devia ter tempo pra isso. Não devia ser tempo disso. Mas se há tempestade, não quero mais sentir. Se há tempestade, não quero nem saber. Se tem alguém que não quer saber agora nem mais tarde sou eu.
Quero uma cerveja gelada, uma tarde engraçada, umas cinco mil gargalhadas, em uníssomo, de alegria, de alegria, de alegria. Um abraço, de derreter todas as geleiras e calotas polares, quente, inteiro, feliz.
Mês que vem é Carnaval. Momo, me espera, me dá uma trégua, uma chance, me concede uma dança pra eu poder me levar. Me arrasta, me faz foliã, me deixa descalça, no passo, até encontrar o asfalto molhado nas cinzas da quarta-feira. Pra essa irritação passar.
Carlota
210112
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