Sim, meu amor, preciso. Porque não seria justo comigo permanecer com você tão vivo e tão perto. Preciso que você morra, querido; que seja transformado, pranteado em um altar imenso e cremado e espalhado pelos ventos em algum lugar que não me lembre você. Uma geleira, uma salina, uma cova rasa. Um bueiro, um beco, um buraco em algum caminho.
Perdoe-me, querido, se sou assim. É porque preciso matar você. Mas não é fácil. E não imagino câmaras de gás, latrocínio, suicídio. Imagino apenas suas cinzas espalhadas em algum lugar que não me lembre você. Uma esquina, um bar sujo, um banheiro impregnado de urina.
Ah, meu amor. Vou matá-lo de um jeito doce, você nada irá sentir quando eu lhe beijar por último e rir depois. Nem vai perceber que está morrendo lentamente nos meus braços, porque demorou a entender que eu já nem queria. Nem notou que meus olhos são covardes e não lhe olham mais?
E minhas pernas irão se alternar com as suas. Minha boca, sua boca, que beijo é esse que me inspira bohemias e malboros e uísques, pão de queijo, sorvete, vinho do porto? Vou matar você. E jamais sentirei fome, nem sede, nem frio. Mato você com requintes de crueldade. Olhando juntinho, lambendo sua orelha, abraçando o vizinho. Meu amor, é preciso.
Quando o príncipe vira sapo ou um sátiro e cai por terra a imagem de um, de outro, de nós, só a morte. Só matando você e enfiando suas cinzas num envelope pardo e eu lhe despacho pra Groelândia, pra Finlândia, qualquer lugar onde eu jamais irei. E no escapamento de um carro, na garagem, na escada, no fio da navalha, eu mato você. E é bom.
Carlota
31012012
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