domingo, 26 de dezembro de 2010

Redescobrindo um texto

Lembrei que eu curti muito esse. E, curiosamente, faz pouco mais de um ano que escrevi. Quase profecia, porque vivo a beleza das coisas que escrevi.


Sem medo

Estava me descobrindo um pouco ao caminhar ao sol. Sentia-me feliz
simplesmente por estar carregando uma torta de chocolate, parte de um
ritual que faço em cada manhã de aniversário de cada filho meu.
Lembrava então do primeiro parto, de como tinha ido alegre à
maternidade e de como não senti medo algum. Por nenhuma dor, pelo
desconhecido, por aquelas salas e pessoas que nos mexem e indagam e
nos dizem para esperar ou que chegou a hora.

Sem medo. Talvez seja a atitude que assumo diante da vida hoje e
também a um certo tempo. Algumas decisões implicaram num jeito
estranho de encarar o futuro, como se dele não precisasse esperar nada
que eu não estivesse construindo. Aliás, sem esperar futuro, porque em
certos momentos o fato de estar vivendo era suficiente para continuar.

Pequenas coisas. Dar aulas e ser tímida. Perdão. Separação e três
filhos. Declarar afeto na incerteza da reciprocidade. Mudar quando
necessário. Mestrado. Correr uma semana para entregar um projeto.
Investir em sonhos esperando torná-los concretos. Amar. Dizer não a
uma grana boa, porque era hora de espairecer.

Encontro assim um refúgio em minha alma, no lugar onde à noite observo
meus olhos travessos. E uma certeza engraçada, porque irracional e
assim, toda minha. Como dizer isso? É como saber que o caminho tem
dores e imperfeições e tristezas e perdas. Mas tem também tanta
beleza...

Quando encontro uma palavra amena. Quando alguém me beija. Se me perco
em um abraço e festejo aniversários. Por encontrar os amigos e beber
numa sexta-feira. Por saber que a vida é tanto e toda, e que ainda
vivi pouco. Porque adoro Jack Daniels e poesia sem métrica, ideias,
conversa à toa. Porque não sou definitiva e nem espero que nada seja.
Então sigo. Sem medo.

Carlota
10122009.

Um comentário:

  1. Muito bom, Carla! Quando estiveres em apuros, (re)leia esse texto. Vc mesma se deu todas as respostas!

    Viva a sabedoria da nossa alma! Viva a sua!

    Beijos.

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