quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Morto vivo

O caso já acabou há anos e você ainda suspira? E procura cartões antigos, relembra perfumes, arruma desculpas para o namoro ter acabado e se considera o grande amor da vida dele (apenas ele não se deu conta disso)? Pois é, carregando um morto vivo por aí e nem sabe. Ou vai me dizer que acha normal seguir o perfil dele no facebook, olhar as fotos, vez em quando engatar um papo via email (para relembrar as vezes em que eles foram pródigos e calientes) e ter uma resposta lacônica?

Querida, a fila anda e a catraca gira. Em frente, certinho? Nada de se agarrar com aquela seleção musical que te lembra dançar com ele, nada de olhar a lua cheia e pensar naquela noite em Japaratinga, nada de ir na Livraria Cultura catar o livro de um autor que, você sabe, ele adora.

Medida profilática um é deletar o número dele da sua agenda do celular. A dois é, ai, deus lhe dê forças, apagar os emails dele da sua caixa postal, incluindo aí também as mensagens românticas ou sacaninhas que ainda habitam o seu telefone. Doeu, pois é, mas é preciso ir adelante, cariño, se não, corre o risco de virar uma moçoila suspirante e aflita, com rancores e rompantes inimigos de qualquer cara que queira se aproximar de você.

Então que estamos decididas. Felizes. Recomeçando. Do curso de idiomas a uma aula de sapateado. E vai que quando você decide ficar em casa, naquela sexta à noite, a assombração te liga perguntando onde você está. Assim, na maior tranqüilidade, pra não dizer cara de pau. E você fora de si porque resolveu ficar em casa e ela fica a quilômetros de qualquer oportunidade de reencontro. Nem pense em sair, viu? Melhor brincar que vai dormir.

Tá. Combinado. Eis que o céu conspira e te traz um outro telefonema, em plena manhã de terça-feira. Um tchau tão definitivo – você pensa – devia mesmo era ter dito: fui! E uma conversa mansa, sem pé nem cabeça, com certeza não envolvia álcool que eram apenas 9h30. A surpresa só não é maior porque você conseguiu ser articulada o suficiente pra dizer: meu bem, já era.

E você, que está levinha, comprou duas saias vaporosas e cinco camisetas para curtir o verão, planeja a viagem do próximo ano e quer romper o ano sozinha e de branco em uma praia linda (ainda bem que parcelam pacotes de réveillon), só consegue pensar que dezembro, definitivamente, é o mês do malassombro. Portanto, querida, se benza, espante os morto vivos e os nem tanto e caia na farra com sua solteirice. E nem precisa ter lido Simone de Beauvoir pra saber que essa liberdade às vezes é solitária, mas garante algo compensador: a verdade de estar com quem você quer, apenas quando você quiser.

Carlota
08122010

Nenhum comentário:

Postar um comentário