sexta-feira, 1 de abril de 2011

Intervalo e 3 atos (Morte)

Minha sogra morreu no dia 14 de fevereiro, quase dez anos após a morte do meu sogro. Sofria no hospital com dores, inchaços, escaras. Sofria daquela vontade de ir embora e se livrar de um corpo que já não lhe pertencia. Fui visitá-la apenas uma vez, após uma das sessões de acupuntura em que me senti tão cheia de amor, que precisava extravasá-lo em carinho e palavras amenas.

Quando a encontrei agradeci por tudo o que me deu. Toquei suavemente seu rosto, toquei, toquei, dizendo como gostava dela. E ela disse-me: “Você não sabe como isso é um conforto”. Resgatei o que sentia por ela quando nos conhecemos, quando ela me amparou após o meu primeiro filho, sem lembrar dos atritos que me afastaram de sua casa, a qual só visitava quando era seu aniversário. Só quis dizer, tocando o seu rosto,que estava ali e queria por alguns instantes amenizar a sua dor.

Não fui ao velório. Cheguei em cima da hora para o enterro, ainda com medo de encontrar a atual esposa de meu ex-marido. Não seria uma ocasião interessante para trocar palavras, nós que já nos encontramos outras vezes. Nenhum com a família dele presente. Como seria assumir o posto de ex e ver a nova mulher receber os pêsames junto à família? Sabia que iria me sentir constrangida. Mas ela não foi. E terminou que eu recebi o carinho de gente que não me via há muito, muito tempo.

Meu ex-marido desamparado. A morte faz isso, dos pais principalmente. Fiquei ao seu lado, caminhando abraçada. Perguntei se precisava de algo, avisei estar disponível para conversar. Lembrei da visita ao hospital e falei sobre isso, sobre ter me despedido dela. Enredei-me em tristeza, na constatação do envelhecimento, da irreversibilidade da vida. Não gosto de despedidas.

Um comentário:

  1. Poxa Carlinha!! Sei que isso tocou muito vc. Mas foi lindo. Parabéns pela coragem.

    ResponderExcluir