sábado, 5 de junho de 2010

A cerimônia do adeus

Roubo de Simone de Beauvoir o título dessa crônica, ela que escreveu esse livro em uma homenagem a Sartre. Quem não leu Tete a Tete, procure-o na livraria para conhecer mais desse casal revolucionário, e dos códigos de conduta temporários de Sartre. Mas não é este o motivo da crônica. O motivo é o adeus de uma amiga (o meu, dei anos atrás); Por sinal, ela começa assim:

Hoje eu tenho de te dizer adeus. Pra quê? Já não fora dito? Já não tinha sido uma escolha? Os caminhos não tinham se separado antes de hoje à tarde?

Sim, mas eu sempre senti que podia. Voltar, me aninhar em seus braços, deixar cair os muros que levantei tão sem sentir. Ou melhor, após sentir tanta dor.

Não é hoje que você vai embora. Você vai há muito tempo. E a coragem de libertar minhas amarras você também deixou para trás. Porque houve tantos não ditos, tantas palavras que mesmo ditas não surtiram efeito, porque todas as mágoas, rancores, angústias, demoraram a passar.

Tinha de ser em pleno inferno astral? Não, não tinha. Mas tinha de ser em algum momento. Porque talvez o que ainda está perto possa ser menos doído à distância. Talvez o que fique longe alivie nossa alma e finalmente a liberte.

Mas esse adeus não pode ser sem um último beijo, sem esse abraço sufocante de não querer ir e nem deixar partir. Não pode ser sem eu me entregar mais uma vez, porque desespero com esse ir, que me diz: não vou voltar. Deixa eu te amar. Deixa. Desse jeito morno, desse jeito de quem conhece teu corpo, para quem o meu se entrega docemente, não, hoje ele é quase feroz, de tanta vontade de você de tanto tempo de tanta falta de tanta lembrança que chegou e não foi.

Há quanto tempo minha história é você? Há quanto decidi que você foi meu grande amor? Como não lhe ver nunca mais ou lhe ver em períodos determinados pelo voltar um dia ou nunca?

Ai que essa dor vai doer muito. Que esse dia não chegue hoje. Que ele sempre seja só amanhã. Que a noite se prolongue e meu choro se misture com meu gozo e queria gozar mil vezes e te beijar milhões e te encontrar sempre meu, sem reservas hoje, sem vontade de ganhar disputas verbais ou dizer que eu estava certa.

Sim, eu estava certa. E ainda estou. Certa de que você é meu grande amor. E que esse coração vai precisar de outra pausa, até chegar o tempo de renascer.

Hoje, meu amor, te digo adeus. Não volte, não me olhe, não me esqueça.


Carlota
04062010

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