Sentiu vontade de ouvir segredos. Daqueles, descritos nos olhos, repletos de silêncios. Havia uma caixa aqui. Estava fechada e de repente escorregou. Exposta assim sua forma, parecia simples, artefato de madeira que não encaixava mais direito e, por isso, permanecia aberto.
Esforço. Tentativa. Nada. Continuava lá, aberta. Incerta. Poderia reunir poemas, fotos antigas, ter guardado uma minúscula mecha de cabelo ou o crucifixo da família. Pequena. Nada tinha disso. Leve. Quase pluma.
Como etérea fosse, permitiu correr. Vento no rosto amenizava a canseira do dia. Passos cada vez mais rápidos impediam o pensamento traiçoeiro. Ainda não. O lugar não é esse. Continua a correr. Está mais longe.
Sem fôlego. Respirar era difícil. Abre o peito e sente o ar entrar. Devagar agora. Baixa o ritmo de vez, tonta do esforço. Os pés doem, as mãos formigam. Vertigem. Libertadora. Não precisava ser firme nem ater-se ao gesto.
Delicada vontade de ouvir segredos. Manhã de caixa e peito abertos. Por um triz.
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