Sim, vez em quando eu vou ficar muito, muito puta com
qualquer pessoa que não atente para o fato de que eu tenho 43 anos e todo um
passado e um futuro. Tive sonhos que não se realizaram, tive presentes
inesperados, tive afetos, tenho afetos, tive decepções, meu caro. E paixões e
cigarros e uísques e taças de vinho que abrandaram a ira quando ela chegou.
Assim como as palavras amigas de quem foi comigo naquele dia àquele bar e cedeu
a compreensão necessária para abrandar uma dor que era intensa e ameaçava me
sufocar.
Que um cara chegue e diga pra você como seria bom que você
fosse outra ainda me espanta. Como assim, como posso ser outra se sou essa
mesma que está na sua frente agora e que te prendeu ou enredou em uma história
cheia de pequenos prazeres e grandes alegrias? Ou seria o contrário?
Raiva. Após ler um
post sobre o feminismo ainda estar ativo e ser necessário; após ler outro no
qual a beleza de uma atriz americana é ressaltada e como ela se queixa disso;
após ouvir de alguém – eu queria que você fosse minha, que você fosse outra...
Puta que o pariu!!! Só respondi: se eu não fosse ou tivesse sido ou vivido o
que vivi, eu não seria essa que está conversando com você.
Peloamordedeus!!! Me libertem da pretensão de ter de zerar
minha quilometragem para agradar qualquer pessoa que se aproxime. Setembro
completo 44 anos. Tenho um filho que vai fazer 15, uma menina linda de 13 anos,
um caçula que vai ter 12 jajá. Tenho uma cicatriz de 10 centímetros no abdômen –
essa me garantiu a perda do medo e a liberação do grito necessário pra viver. Ah, querido, não me peça o fim do furacão. Não
me peça não ter paixão. Nem não ser intensa, porque sou. E nada, nada vai mudar
essa pessoa em constante transformação. Apenas a necessidade de transgredir, de expandir, de sair da minha zona de conforto e partir.
Horror de quem me vê unilateral. Quem vê apenas uma faceta, apenas um lado, apenas fragilidade
porque choro vez em quando. O que menos sou é frágil. Sou apenas uma pessoa que
quando não dá mais, chora. Quando não dá mais, para. Quando não dá mais,
respira. Quando não dá mais, corre no calçadão até nem conseguir respirar mais.
E segura a âncora que criou na imaginação. E que sou eu. Feita dos que
me amaram, dos que me seguraram, dos que me ouviram, dos que foram amados, dos
que ainda são. Dos amigos, dos afetos, da família, do trabalho. De cada
conquista, de cada sonho, de cada merda que eu fiz e me arrependi. De cada
perdão que não consegui, de cada perdão que eu lancei sobre alguém.
E juro, se alguém mais não quiser ver os olhos castanhos de
alguém de 43 anos, de alguém com sua história que nem sempre quer dividir, mas
que garantiu que eu chegasse até aqui, amor, vá simbora. Que paciência é algo
raro demais pra desperdiçar assim.
Carlota
07072013
Perfeito!
ResponderExcluirParabéns pelo blog e pelas produções!
Besitos
Obrigada por curtir a raiva partilhada. Beijo.
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