Daí que o milkshake, para quem já adora frozen de tangerina
e na praia costuma consumir raspa-raspa
(livrai-me-de-pensar-por-onde-vai-a-mão-que-raspa-o-gelo) de
morango e coco, não pareceu algo tão escatológico quanto um sorvete
de macaíba, por exemplo.
O inusitado começou quando aceitei o convite para um rodízio
de sushi. Você pode estar com água na boca ou com o estômago revirado, confesso
logo que se fosse uma pizza de pepperoni tinha ficado mais animada. Qualquer
rodízio me deixa em desvantagem. Não consigo comer muito e aquela exuberância
de comida passando o tempo todo termina me perturbando visualmente a ponto de
ficar inapetente.
Encontro Pedro Bezerra, o sensato rapaz que fez aniversário
há 13 dias. Encontro Juliana, amiga de Pedro, que um dia dividiu uma garagem e
aulas de desenho comigo, me matando de inveja com seus mangás maravilhosos.
Encontro Vitor, irmão de Pedro, também um amplo distribuidor de abraços e
consumidor de sorvetes e sushis. Tive de ouvir ser eu uma farsa. Quem conhece
Pedro lhe conhece também a expressão. Explico: fui logo dizendo que só ia
consumir coisas cozidas, sushis maçaricados, apelando para a neutralidade de
sabores. E aí terminei colocando no prato salmão, alga, peixe, uns empanados e
vamos comer!
A gente estranhou sim, mas foram as duas telas exibindo MMA,
logo acima do balcão de comidinhas. Os caras suados, se atracando, a gente sem
ouvir nada, e de repente Ju vai de narradora: “amigo, me dá aqui um abraço!” O
cara escorrega e ela fala: “pô, cara, cosquinha não vale”. E depois a sede avassaladora.
E a gente olhando sem acreditar o preço de um copo de 330 ml de suco: R$ 5,00.
Mas o danado era de tangerina. E foi dando ideia. Na recusa em consumir
qualquer bebida, vai todo mundo pra sorveteria.
No caminho, Ju assusta um pobre ciclista, tem de escutar
Pedro dizer que ela sim, assustou o ciclista e a gentil menina que se dispôs a
dar carona até a John's da Madalena nem água quis. Vitor foi no casquinho com
duas bolas de sorvete de morango – Ju estranhou a escolha. E garantiu: aposto que vocês
serão as primeiras pessoas a pedir um milkshake de tangerina. Perguntamos. E a
atendente responde: a mim, foi a primeira vez.
Dividimos um de meio litro com calda de morango. Pedro
queria caramelo, eu disse que ia morrer de enjoo. Ele se rendeu – é tudo fruta,
combina. E a gente senta com dois canudinhos e fica dividindo aquele pedacinho
de céu. Doce, azedo, leve, quase um frozen mesmo. E ele corria a beber e eu
enrolada naquela divisão.
E nessa história Vitor nos explica sobre o porquê de
um bairro recifense se chamar Bomba do Hemetério (tinha um cara com uma bomba
que garantia água para os moradores do lugar). Eu expliquei o porquê do nome Chão
de Estrelas (uma comunidade de lavadeiras que estendiam roupas e lençois nos
varais e, com a luz da lua, as sombras se projetavam por entre as peças formando desenhos no chão, parecendo
estrelas). E a gente ficou assim, achando bonito isso tudo.
E enquanto o sorvete durava, apareceu até Bauhaus. Com
espaço pra gente dizer que menos não é mais de jeito nenhum. Que um pequeno
detalhe, um ornamento, algo inusitado, pode deixar um objeto mais belo, uma
casa mais bonita. “Isso tem amor”, diz Pedro. Como a mistura doce-azeda abrandando o calor do sábado em Recife.
Carlota
13042013
É de ler babando e imaginando o sabor inusitado do tal milkshake de tangerina, num mundo sabor de coca-cola. Pensei e falei em vc esta semana, com Rafa Marroquim e Dani Lima. Saudade de tu. Beijo.
ResponderExcluirEspero que tenha falado com saudade boa! O milkshake é uma delícia, mas valia uma calda cítrica também. Saudade grande de todas vocês. Beijo.
Excluir