De repente indo ao supermercado me deu uma saudade danada de casa. Sabe aquela coisa de curtir ficar descalça e sentir o chão frio? De olhar a cozinha espaçosa, a janela que dá para o quintal, a outra que dá para o jardim, que tem um jasmineiro que mexe com minhas memórias, que me acalma e dá alento, brinda a noite quando decido ir olhar a lua e só?
De repente, assim, indo ao supermercado, 11 da manhã,
caminhada curta e calorenta, mas lembrei disso tudinho e foi me dando essa
saudade, essa vontade de não sair daqui. Por mais que eu queira muito voltar à
minha cidade natal, ficar mais perto dos amigos e do trabalho e dos filhos,
almoçar em casa, caminhar na praça, na beira do rio, ter aulas de aquarela,
sair caminhando pela cidade, aconteceu de sentir esse apego.
Talvez por ter comprado a casa sozinha. Por ter visto os
filhos crescerem nesses sete anos, por ter aprendido a resolver
outros problemas e enfrentar alguns vazios. Talvez por todas as caminhadas na
praia, pela voragem de querer correr quando a mente precisava esvaziar-se, talvez
porque eu gosto tanto de mar, do cheiro, da brisa que há por aqui. E de ver
aquele casal antigo na calçada e ouvir bom dia e perscrutar o jardim deles
admirando uma acácia amarela e ter medo quando vejo apenas um.
De repente lembrei de quando aprendi a fazer feijoada, cada
um que me entregasse uma receita mais elaborada e eu, cozinheira desconfiada,
resolvi por todos os ingredientes dos quais eu mesma mais gostava. E assim, sem previsão,
chegaram amigos tão queridos, com mães e filhos, e aquele caldeirão imenso foi a
medida certa para a nossa fome. E os elogios, de tanto prazer e vontade de
repetir, chegaram dizendo que realmente a feijoada dera certo. Pois então, não
atraiu amigos para um encontro inesperado?
E o vento, danado, quando empurrava as janelas e assustava o filho mais velho? E os bichinhos que foram chegando (uma jabuti, uma dachshund ) e outros indo embora (minha boxer fugitiva, um border collie que morreu), meus vizinhos gentis, um que também faleceu. E o acolhimento e a sorte de sempre ter gente boa no entorno de minha casa. E dentro dela.
Nasceu assim, de repente, hoje, 11 horas, na caminhada curta e calorenta de casa ao supermercado, uma saudade insana, quase esganada, cortando devagarinho a necessidade de ir. Apego ao jeito de olhar um mundo conhecido, que aprendi a amar aos poucos porque em muito me lembrava o bairro onde morei por tantos anos. Aqui, outra cidade, mas vai ver eram os muros, as casas, as cadeiras, as gentes todas que nem sempre conheci.
E de repente descobri amar os pedaços que se juntam em forma
de portas, janelas, espaços. Com o coração apertado e querendo muito, muito,
toda a sorte e amor do mundo na procura e encontro por meu novo lar. Para onde
irei arrastar livros, filhos, afetos. Onde bolos de laranja e café serão mais
frequentes, assim como as conversas e uma janela específica, de onde eu possa
ver uma mangueira, trazendo um pouco da antiga casa para mim.
Carlota
270113
Uma singularidade tão plural...
ResponderExcluirOi Gabriel, faz é tempo do nosso café!
ExcluirLindo texto Carlinha =)
ResponderExcluirMudar é tão difícil, né, Armindo?
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