quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Como se faz?


Uma fantasia, um Carnaval, um samba, uma ode, um romance? Como se faz o concreto quando o que a gente pensa nem existe ainda? Como se faz? Como se quer, como se pretende, como se chega nisso aí? Acabei de criar um quadro com metas/pretensões/ideias/propostas para os próximos 10 meses. Até dezembro tem coisa por lá. Tem tanta, na verdade. E eu torcendo mesmo para fazer tudo o que estou propondo, assim, suavemente, mas com um tanto de imposição – é pra ser, é pra fazer, é pra abstrair -, viu, moça?

Devo ter esquecido coisas fundamentais, tipo ser mais amena, mais alegre, mais contemplativa. Devo ter esquecido de anotar que é preciso parar também. E que é fundamental não ficar parada. O que mais curti nesses esboços de hoje foi anotar as palavras que eu quero que comandem 2012 para mim (vou aproveitar que é um ano par, que o astral começou bem): entusiasmo, compromisso, alegria, amor, persistência, família, disposição, vontade, amizade. Tinha outras lá, mas estou esquecendo. Aliás, estou esquecendo um monte de coisas desnecessárias também. Carregar uns pesos chatos. Desconfiar de que, em algum momento, eu não vou dar conta. Outras lembrei com felicidade: vai ter viagem, sim, vai ter partilha, vai ter coisas bem legais para aprender. E relembrar.

Revista Piauí de fevereiro (edição _65) me traz uma seção denominada questões afeto-desportivas. O autor, Ricardo Lísias, começou a correr após uma crise, após ter se separado, no meio de um romance acordado com uma editora, antes de uma oficina literária que iria ministrar. E foi a corrida que o impediu de sucumbir/perecer/enlouquecer (fiquei na dúvida sobre qual palavra usar). E hoje, aproveitando a momentânea licença do trabalho por conta de uma conjuntivite, fui caminhar na praia (santo remédio para quem quer pensar). Mudei o horário, que não estou agüentando o sol por enquanto. E assim, próximo às oito da noite, vou para o calçadão. E resolvo tirar o fone de ouvido e escutar, de verdade mesmo, os meus pensamentos.

E o que era caminhada foi corrida bem umas seis vezes. O fôlego ainda não me dá o direito de correr mais do que cinco minutos intercalados com a caminhada. Mas quando eu corro, é de boa, é de vontade mesmo, é pra deixar o que quer que esteja me incomodando lá pra trás. E tanta coisa está, nesse momento, nesse tempo incômodo. O maior, talvez, seja o não sentir. Sem grandes entusiasmos, sem um tanto de indignação, sem choque, sem medo, sem transgressão.

E me vi pensando que eu quero muito, muitas coisas diferentes. Aprender está em praticamente todas elas. Aprender a viver comigo, com os outros, com a vida que existe a cada dia, a cada pessoa que conheço. Aprender que eu não quero ser compreendida, explicada, esclarecida. Quero ter pontos obscuros, quero ter pontos excessivamente claros, quero tanto, tanto, que nem sei.

Como se faz uma vontade? Como se faz a realidade? Como se faz para trazer à tona o que é preciso para aquele exato momento? Não tenho nenhuma resposta. Aliás, parece que não tê-la é o requisito fundamental para viver. Que a vida então se faça. E me faça renascer.

* Sobre a corrida. Ao falar com uma amiga sobre uma ocasião em que simplesmente não pensei em nada, só fiquei sentindo o vento, o piso, o corpo em movimento, ela me explicou ser uma experiência de presença, algo que a gente sente quando faz ioga, por exemplo. Porque eu estava completamente, inteiramente ali. E, posso dizer, é uma das melhores coisas que se pode sentir. Thanks, Anamaria, pela explicação.

Carlota
150212

2 comentários:

  1. Simplesmente, amei.

    "...é pra deixar o que quer que esteja me incomodando lá pra trás. E tanta coisa está, nesse momento, nesse tempo incômodo. O maior, talvez, seja o não sentir. Sem grandes entusiasmos, sem um tanto de indignação, sem choque, sem medo, sem transgressão."

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  2. Acho que irei sorrir mais nas aulas :) Beijo, menina.

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