segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tempo

Uma das coisas que nos ensinam na infância é que há tempo para tudo: para estudar, para brincar, para dormir, para acordar, para entrar de férias, para voltar às aulas. Tempo de namorar quando entramos na adolescência, de se apaixonar, tempo de escolher a profissão a seguir. Tempo de parar de procurar um amor porque ele chegou e a gente encontrou nossa metade da laranja.

Está certo que existem variantes. Cada um com sua história, essa pode ter sido a minha. Ou o que minha família me dizia. Sei que descobri que o tempo passa, não necessariamente os tempos. Pelo contrário, eles se alternam, a vida não é linear ou algo tão simples assim. Sinto não ter mais tempo (e dinheiro) para aprender tudo o que eu quero: espanhol, inglês, ilustração, flamenco, corte e costura. Sinto ter tão pouco tempo para me dedicar aos meus filhos (a vida me exigiu ser a provedora), aos meus amigos, às descobertas de novos afetos.

Nesse meio tempo, vou me sentindo irritada com quem pensa ter todo o tempo do mundo. E peço desculpas se a carapuça lhe serviu. A gente não tem tempo. A gente tem uns dias aí que se transformam em meses e depois em anos e de repente a gente vê uma senhora no espelho. Ou recebe a notícia de que alguém muito querido se foi. E, nessa agonia cotidiana de sobreviver, a gente tinha até deixado de conversar. Deixado de conviver, apesar de ter sido acolhida com tanta gentileza em um período de transição para casa e vida nova.

Não sei se me inquieta o fato de achar que às vezes perdemos tempo com histórias que foram mal resolvidas, com amores que ficaram latentes, com certezas nem sempre tão certas assim, com a grosseria que encontramos quase que diariamente, inclusive em nós. Não sei se consigo superar todas as mágoas e ir adiante em todas as vezes. Mas eu tenho tentado, já há algum tempo. Talvez pela morte ter sido uma figura próxima de mim desde criança. Perdi avô, pai, mãe, tio, avó (essa no seu tempo, mas continua me fazendo falta). E aí que as palavras que eu não disse, a convivência que me foi tomada, a cumplicidade que deixou de existir, criaram seus próprios espaços dentro de mim.

Também eu passei pela experiência de quase ter morrido. E sei que meus amigos estavam no hospital rezando por mim, na minha casa com meus filhos rezando por mim, imaginando o que seria deles e de meu então marido sem minha presença. Mas fiquei. E me cobro o tempo primordial de ser feliz. Quero ter sempre meus tempos de aprender, conviver, amar, me apaixonar, me equilibrar, me desequilibrar, continuar, viver. Porque pode haver tempo para tudo. Mas quando ele acaba, não há volta. Eu não estarei aqui.

Com amor, para Fábio e Botelho.
Carlota
05122011

Nenhum comentário:

Postar um comentário