terça-feira, 17 de março de 2015

Alegria, alegria

Você sai de casa completamente sonada, vestido florido e esperança de uma noite leve. Cabelo curto, molhado, sandália, ônibus, desce e na caminhada sente cheiro de mar. Entra lá no restaurante, corre os olhos, vê gente tirando fotos em uma mesa grande, se volta para a escada e, na subida, escuta a sonora gargalhada de um menino encantado.  E conhece gente nova e revê amigos. E se sente desperta e se anima e se põe a conversar.

E nessas ocasiões nas quais todos falam e todos escutam, porque habilitados estão na alma a escutar o outro e largar o próprio umbigo, vai se percebendo um agrupamento de ideias em torno de um roteiro fantástico. E haja brinde pra expandir essa alegria. A minha se espalhava devagarinho, bem dengosa, pedindo ainda abraço e beijo. Da cadeira onde estava, olhava com tanto desejo de encaixe que levantei e mudei de lugar. E me imprensei entre aqueles dois. Feliz. Podia, estendendo o braço à direita ou à esquerda, apertar os corpos, tocar no rosto, dar xêro e beijo estalado.

Conta encerrada, praia. Foi só atravessar a rua, comprar três cervejas, conferir o malboro, tirar as sandálias. E aquele barulhinho e a maresia deixando a noite mais linda. Três pessoas destemidas resolvendo dar um mergulho no mar de Casa Caiada.  Olhei e deu uma vontade, mas uma vontade tão grande... Fui. Antes de entrar de vestido e tudo, fiz o sinal da cruz com a água do mar, sincretismo pra pedir licença à minha mãe Iemanjá e penetrar em seus domínios, ainda mais àquela hora.

Alegria de se ver naquele mar inteiro e se sentir bem com os que estavam perto. E ter cumplicidade de rir e flutuar na água e falar besteira ou ficar quieta olhando o céu. As mazelas todas indo embora, a certeza de que o mar lava a alma e a rainha abençoa as decisões. Liberdade ver cada um curtindo do seu jeito, a coisa mais simples do mundo e tão próxima: um mergulho noturno no mar. Pra sentir a água morna, o vestido enroscar nas pernas, pra pisar na areia e arranhar os pés em conchas quebradas. E depois da dança que espantou o frio de sair do mar, do cigarro e dos abraços, beijos e despedidas, a felicidade clareou o caminho todo pra casa.

E aquelas duas horas nas quais fiquei livre e me permiti mergulhar na alegria e só sentir essa moça juntinho de mim, reverberaram para a observação do meu filho no domingo à noite. Ele, que convidou um amigo pra passar a tarde em casa e ficou jogando e curtindo a conversa; ele, que foi tomar um milkshake de chocolate e morango com o irmão e o amigo em uma sorveteria da orla, enquanto eu subia a Sé de Olinda com minha filha, comentou em um de seus inúmeros momentos de sabedoria: “é tão bom a gente ficar assim com os amigos e poder fazer o que quiser, né?! Dá uma sensação de liberdade tão grande, mainha”. Tu ficou alegre, nêgo?, perguntei. “Muito” e me deu um abraço desses de enroscar as pernas nas minhas. Um jeito de dividir a alegria, sabendo que eu também estava feliz. E estou.

Para Bruno Souza, menino do riso encantado, com muita alegria por ter você aqui

Carlota

17032015 

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