Você sai de casa completamente sonada, vestido florido e
esperança de uma noite leve. Cabelo curto, molhado, sandália, ônibus, desce e na
caminhada sente cheiro de mar. Entra lá no restaurante, corre os olhos, vê
gente tirando fotos em uma mesa grande, se volta para a escada e, na subida, escuta
a sonora gargalhada de um menino encantado. E conhece gente nova e revê amigos. E se sente
desperta e se anima e se põe a conversar.
E nessas ocasiões nas quais todos falam e todos escutam,
porque habilitados estão na alma a escutar o outro e largar o próprio umbigo,
vai se percebendo um agrupamento de ideias em torno de um roteiro fantástico. E
haja brinde pra expandir essa alegria. A minha se espalhava devagarinho, bem
dengosa, pedindo ainda abraço e beijo. Da cadeira onde estava, olhava com tanto
desejo de encaixe que levantei e mudei de lugar. E me imprensei entre aqueles
dois. Feliz. Podia, estendendo o braço à direita ou à esquerda, apertar os
corpos, tocar no rosto, dar xêro e beijo estalado.
Conta encerrada, praia. Foi só atravessar a rua, comprar
três cervejas, conferir o malboro, tirar as sandálias. E aquele barulhinho e a
maresia deixando a noite mais linda. Três pessoas destemidas resolvendo dar um
mergulho no mar de Casa Caiada. Olhei e
deu uma vontade, mas uma vontade tão grande... Fui. Antes de
entrar de vestido e tudo, fiz o sinal da cruz com a água do mar, sincretismo pra
pedir licença à minha mãe Iemanjá e penetrar em seus domínios, ainda mais àquela
hora.
Alegria de se ver naquele mar inteiro e se sentir bem com os
que estavam perto. E ter cumplicidade de rir e flutuar na água e falar besteira
ou ficar quieta olhando o céu. As mazelas todas indo embora, a certeza de que o
mar lava a alma e a rainha abençoa as decisões. Liberdade ver cada um
curtindo do seu jeito, a coisa mais simples do mundo e tão próxima: um mergulho
noturno no mar. Pra sentir a água morna, o vestido enroscar nas pernas, pra
pisar na areia e arranhar os pés em conchas quebradas. E depois da dança que
espantou o frio de sair do mar, do cigarro e dos abraços, beijos e despedidas,
a felicidade clareou o caminho todo pra casa.
E aquelas duas horas nas quais fiquei livre e me permiti
mergulhar na alegria e só sentir essa moça juntinho de mim, reverberaram para a
observação do meu filho no domingo à noite. Ele, que convidou um amigo pra
passar a tarde em casa e ficou jogando e curtindo a conversa; ele, que foi
tomar um milkshake de chocolate e morango com o irmão e o amigo em uma
sorveteria da orla, enquanto eu subia a Sé de Olinda com minha filha, comentou
em um de seus inúmeros momentos de sabedoria: “é tão bom a gente ficar assim com
os amigos e poder fazer o que quiser, né?! Dá uma sensação de liberdade tão
grande, mainha”. Tu ficou alegre, nêgo?, perguntei. “Muito” e me deu um abraço
desses de enroscar as pernas nas minhas. Um jeito de dividir a
alegria, sabendo que eu também estava feliz. E estou.
Para Bruno Souza, menino do riso encantado, com muita
alegria por ter você aqui
Carlota
17032015
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