Não sei se é uma vibração que emano ou se o universo
conspira. Mas, milagrosa e felizmente, tenho amigos incríveis. Desses que
compreendem sua necessidade de exílio ou de dançar freneticamente até ficar
extremamente cansada. Desses que acolhem em noites calorentas e refrescadas com
cerveja, suco ou água. Desses que, de repente, dizem verdades sem a
pretensão que elas assim sejam.
Pois Mariana Freitas, essa gata inspiradora de textos e
abraços, foi indicando caminhos ao longo de nossa convivência. Um dos
presentes maravilhosos de outra moça linda. Essa, Gabriela Valadares,
já foi aluna, já foi amiga. Hoje está entranhada na alma, com aquele desejo
imenso de gratidão e felicidade. É afeto e parte. É algo que sou.
Mari, moça esperta, além de me apresentar a cafés e bares
olindenses, que eu em nove anos na cidade não havia tido coragem de frequentar, se
revela uma observadora do gênero humano. E de nossas manias, carências,
alegrias. Ontem, lá na Mamede, essa rua simbólica de encontro e boemia, me
falou sobre conversas com o espelho. Um lance de se olhar e, realmente, se ver.
E como ando em uma fase de escolhas e de adeus, adeus até a modos de pensar e
agir, resolvi seguir aquele lance comentado tão sem pretensão, mas carregadinho
de sabedoria. Porque se olhar no espelho e se enxergar, não rosto, corpo,
roupa, riso; mas alma e olho aberto pra o encontro, pode ser revelador.
É se ver e conversar e dizer bom dia pra moça que hoje olha
meio enviesado mas que precisa, nesse bate papo, saber mais de si mesma. E contar
pra si que é amada, tem dúvidas, às vezes quer tentar outras
histórias. Hoje, quarta, dia de casa e almoço em casa e vinho e música, resolvi
antes do banho e da ergométrica colocar essa conversa na agenda.
Daí que, no espelho, consegui verbalizar amor. Consegui
falar das dúvidas. Consegui enxergar claramente todas as características da avó
linda que tive desenhadas em meu rosto. E, pensando, ainda tenho, pois que está no
coração, na barriguinha travesseiro, na poesia, no desejo de ser melhor, na
forma como cozinho e deliro com os elogios dos meninos.
Consegui, no espelho, falar do que preciso. Olha, Carla
Patrícia, eu quero isso. Eu preciso. Esse é, realmente, o meu desejo. E, presta
atenção agora, eu gosto muito, muito de tu, visse? E te acho foda às vezes.
Acho que você até que está educando seus filhos de um jeito legal. Acho que tem
horas que tem muita luz e gente boa ajudando. Acho que você pode ser grata até
a aquilo que não deu certo. Acho, inclusive, que fazer escolhas e dar adeus pode ser um
passo infinitamente doloroso. Mas necessário. E nesse percurso estranho porque
próprio e só seu, dona Carla, bora ter coragem, visse?
Bora se inventar de novo
e aprender e perceber nuances. Bora dar adeus aos padrões de pensamentos,
atitudes, tristezas. Bora achar incrível viver e saber tanto de si mesma. Bora
ser feliz com essas criaturas amorosas que, tenho certeza, não por acaso estão
ao seu lado. Então que a manhã de quarta foi isso: aprendizado, escuta,
entrega, claridade. Mesmo hoje o dia sendo nublado. Porque o espelho foi alma
refletida para muitos e imensos bons desejos.
Carlota
04032015
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