Nem percebeu o princípio de sorriso que o começo esboçava. Nem notou, quando almoçava, que o mundo parecia outro. Era só o começo que chegava. Na pressa, não viu folhas de árvores ou abraços. Corria. Temia o fim do dia.
O começo insistia. Fazia cócegas, cantava músicas, dedicava olhares... Fazia com que percebesse o som da caminhada. De repente, não estava mais cansada. E diferente se sentia. Já era um começo, pensava ele. E a provocava.
A angústia das luzes vespertinas se transformou em uma espécie de alegria. Soltou espirros, tossiu, engasgou. Os olhos se encheram de lágrimas e teve de parar e ouvir o que o começo lhe dizia. Rendida, pois nem respirava. Era o fim. Não. Começo. Não, é fim. Não resisto. Aflito, o começo lhe dá uma trégua. E ela, sabida, corre o que pode e o deixa para trás.
Desconsolado, o começo olha para o lado. O meio e o fim, não satisfeitos, zombam do pobrezinho. Dia seguinte vem de novo a menina. Vestida de flores na blusa, com passos lentos, olha o começo, deseja bom dia. O meio então se levanta. Obrigado, amigo, agora é comigo. No que ela reage horrorizada. "É só o começo. Mais nada".
Carlota
15042012
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