quarta-feira, 18 de abril de 2012

Um começo de história

A menina anda e esbarra em um começo que de brincadeira estava por ali, assim, de bobeira. Achou bonita, a menina. Quis conversar. Mas ela, que não dava mole para inícios toscos, apressou o passo e foi.

Nem percebeu o princípio de sorriso que o começo esboçava. Nem notou, quando almoçava, que o mundo parecia outro. Era só o começo que chegava. Na pressa, não viu folhas de árvores ou abraços. Corria. Temia o fim do dia.

O começo insistia. Fazia cócegas, cantava músicas, dedicava olhares... Fazia com que percebesse o som da caminhada. De repente, não estava mais cansada. E diferente se sentia. Já era um começo, pensava ele. E a provocava.

A angústia das luzes vespertinas se transformou em uma espécie de alegria. Soltou espirros, tossiu, engasgou. Os olhos se encheram de lágrimas e teve de parar e ouvir o que o começo lhe dizia. Rendida, pois nem respirava. Era o fim. Não. Começo. Não, é fim. Não resisto. Aflito, o começo lhe dá uma trégua. E ela, sabida, corre o que pode e o deixa para trás. 

Desconsolado, o começo olha para o lado. O meio e o fim, não satisfeitos, zombam do pobrezinho. Dia seguinte vem de novo a menina. Vestida de flores na blusa, com passos lentos, olha o começo, deseja bom dia. O meio então se levanta. Obrigado, amigo, agora é comigo. No que ela reage horrorizada. "É só o começo. Mais nada".

Carlota
15042012 

Nenhum comentário:

Postar um comentário